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No dia da Caatinga, preservação desse Bioma brasileiro é cada vez mais urgente

28/04/2021 – O dia 28 de abril é dedicado a um bioma exclusivamente brasileiro: a caatinga. O Decreto Federal de 20 de agosto de 2003, publicado no Diário Oficial da União, instituiu a data, que homenageia o professor João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), pioneiro na área de estudos ambientais no Brasil.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional e está presente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Minas Gerais. Rico em biodiversidade, o bioma abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas.

Toda essa riqueza não livra a região de enfrentar velhos preconceitos de quem não a conhece de perto. Alguns livros didáticos ainda associam a caatinga à pobreza ou à feiura, descrevendo-a como um ambiente rústico e inóspito. Alberto José Santana, analista ambiental do IBAMA/BA, rechaça esse equívoco e explica que, mesmo perdendo suas folhas no período de seca (favorecendo o surgimento de uma paisagem marcada por galhos e troncos “brancos e brilhantes”, que deu origem a seu nome em tupi-guarani: mata branca), a vegetação reage às primeiras chuvas e rebrota prontamente, gerando uma paisagem com muito verde, muitas flores e frutos, além de animais de todas as espécies.

A despeito de, nos últimos anos e em governos anteriores a este, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ter ampliado o número de Unidades de Conservação Federais na caatinga, reconhecendo sua importância socioeconômica, ecológica e cultural, a região ainda é um dos biomas menos protegidos do país. “Apesar do desmatamento, queimadas e ocupações irregulares terem causado a perda de habitats, nichos, fontes de alimentação e o afugentamento da fauna, este cenário está mudando”, acredita Alberto Santana. O analista ambiental e atual Superintendente Substituto do IBAMA/BA cita como exemplo o retorno das ararinhas-azuis à caatinga baiana, ave-símbolo da região (mas extinta na natureza desde o ano 2000), pouco mais de um ano após voltarem ao Brasil.

Ativistas ambientais, no entanto, não são tão otimistas. Um mapeamento de 2017, publicado no Atlas das Caatingas, revelou que a degradação desse ecossistema tem ocorrido a passos largos, mesmo no interior das unidades de conservação de proteção integral. Dentre os fatores que aumentam o risco de extinção de várias espécies da fauna e flora da caatinga, estão: desmatamento generalizado para pastagens e agricultura (fator mais impactante, que já atingiu 46% da área original do bioma), extração insustentável de lenha para fins energéticos, mineração, pastoreio excessivo de caprinos e bovinos, monocultura e crescente urbanização. A irrigação sem os devidos cuidados tem contribuído para aumentar o processo de desertificação do solo.

Com isso, árvores importantes para o bioma como umburana, aroeira, pau ferro, baraúna, quixabeira, e muitas outras se encontram em declínio populacional ou em extinção. O mesmo vale para a fauna, onde animais como cotias, o mocó, os tatus peba e bola, além da própria ararinha azul, são raros de se ver.

A falta de investimentos nos órgãos de fiscalização e controle, assim como as reestruturações por que vêm passando alguns setores do Ministério do Meio Ambiente, enfraquecem sua missão institucional e dificultam ainda mais o combate à degradação na caatinga e em todos os biomas brasileiros. Em alguns casos, os setores passaram a ser controlados pelo Ministério da Agricultura, que, como se sabe hoje, está sob a tutela do agronegócio, cujos interesses conflitam com o desenvolvimento sustentável e a urgência da preservação ambiental.

Estima-se que cerca de 70% da caatinga já se encontra alterada pelo homem e somente 0,28% de sua área encontra-se protegida em unidades de conservação. Neste Dia da Caatinga, mais do que homenagens, precisamos de mobilização e luta por políticas públicas eficazes, com o objetivo de proteger este patrimônio ameaçado, utilizando de forma consciente e respeitosa todos os seus recursos.

(Fontes: O Eco e Instituto Socioambiental)