A ocupação indiscriminada dos espaços naturais e sua consequente poluição em favor do desenvolvimento traz impactos nos ecossistemas (que quase sempre não são avaliados previamente com o cuidado devido). Este crescimento desordenado das cidades não pode ser desvinculado da ausência de políticas públicas de habitação, nem do velho modelo de organização urbana: centro x periferia. Abandonada à própria sorte, em estruturas precárias de moradia, sem acessar direitos básicos como saneamento, saúde e educação, a população periférica, mais carente, (sobre)vive exposta a doenças e surtos epidêmicos constantes.
Além da concentração de renda e exploração econômica da pobreza, a globalização é outro fenômeno que ajuda a entender a propagação de vírus como o COVID-19 na sociedade contemporânea. “Quando aglomeramos as pessoas e estressamos seus sistemas imunológicos, aumentamos a probabilidade de transmissão de doenças. Quando voamos pelo mundo para garantir que as fábricas continuem funcionando e os produtos continuem sendo fabricados e vendidos, carregamos doenças conosco”, explica a professora de sociologia Karen Kendrick.
Por isso é tão importante pensarmos que, quando nos mobilizamos em defesa do meio-ambiente ou protestamos contra políticas de desmonte do serviço público, não é por puro “mimimi” ou torcida contra qualquer ação governamental. É porque essas medidas impactam na vida de todos nós. Na saúde, na economia, na segurança… Tudo está interligado.
A FORÇA DO SUS
Observe-se a esse respeito, no Brasil, a defesa do Sistema Único de Saúde, que ganhou força após a pandemia. O SUS é o sistema que vem sendo sucateado há décadas, graças a interferências diversas, como por exemplo o lobby dos planos de saúde, que visam ao lucro com a privatização do setor. Um dos princípios do SUS é a universalidade, pois é público e atende a todos de graça, independente de gênero raça, credo ou condição social. Também tem natureza integral, pois trata a saúde como um todo e com ações que, ao mesmo tempo, pensam no indivíduo sem esquecer da comunidade. E ainda é equânime, ao tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior.
Entidades sindicais, como o SINTSEF-BA, trabalhadores e usuários do SUS há anos denunciam a asfixia financeira do Sistema. Também como forma oportunista de perpetuar essa imagem de destruição da saúde pública brasileira, veículos de comunicação reproduzem imagens de caos nos hospitais e ambulatórios, sem, contudo, contextualizar a raiz do problema. E mesmo assim o SUS resiste, a despeito de tantos cortes, como os determinados pela Emenda Constitucional 95, a EC do Teto de Gastos, que impõe o congelamento de investimentos públicos por 20 anos.
Como se vê agora, é o SUS que vem aguentando o “tranco” dos internamentos maciços e rotinas de trabalho exaustivas exigidos pela pandemia. Essa força não vem do governo que o desvaloriza, mas da experiência e dedicação de trabalhadores das mais diversas áreas que se uniram para salvar vidas, mesmo expostos ao contágio e dos perigos da falta de equipamentos de segurança.
Por isso é tão importante que a população saiba que, além de aplausos, o SUS precisa de atenção e de políticas públicas que o fortaleçam, ampliem sua legitimidade e valorizem seus profissionais.