Pular para o conteúdo

Nota de Repúdio – Solidariedade a Samantha Vitena

30/04/2023- O SINTSEF-BA e a CONDSEF/FENADSEF manifestam seu mais profundo repúdio aos atos de intolerância e de preconceito racial perpetrados contra a pesquisadora da FIOCRUZ Samantha Vitena, num voo da Gol que saía de Salvador na madrugada deste sábado, 29. Diante da recusa em despachar sua bagagem de mão porque levava consigo seu laptop, que poderia ser danificado, ela foi expulsa da aeronave pela tripulação. Enquanto isso, passageiros do mesmo voo puderam alocar até três volumes de suas bagagens nos compartimentos sem serem importunados, conforme relato de testemunhas. 

Samantha é uma mulher negra e a ação truculenta da Gol contra ela é mais um exemplo da assimetria dos tratamentos e da violação cotidiana de direitos que atingem de forma estrutural a população negra no Brasil

Ter sua crença, etnia, raça, origem e identidade hostilizados deve ser considerado um crime de ódio. Esses são os fundamentos das guerras étnicas que assombram o mundo por ceifarem vidas de populações inteiras. Tal genocídio praticado por nações antagônicas contra seus inimigos declarados aqui se reproduz de forma dissimulada, diante do silêncio cúmplice do Estado brasileiro: nas práticas racistas, no extermínio da juventude negra e na desigualdade social que perpetua a exclusão e a miséria. 

Essa realidade só há muito recentemente começou a mudar – e ainda assim a passos tímidos, bem distantes do ideal. Hoje já somos capazes, por exemplo, de apontar as falácias do discurso nacionalista de que o Brasil seria um país fundado pela conciliação harmônica das três raças. Basta lembrar da posição ocupada por cada um desses três segmentos em nossas origens, seja no latifúndio e na exploração do trabalho escravo pelos patrões brancos, ou nas marcas desse processo histórico contínuo no genocídio dos indígenas e dos jovens negros. Sem esquecer da concentração de renda e privilégios, na desvalorização absoluta da mulher (em especial a mulher negra), na cultura do estupro e do feminicídio.  

Justamente por conta dessas mudanças, fruto de muitas lutas de entidades negras e movimentos sociais e populares que se organizaram e resistiram, é que não podemos mais aceitar passivamente eventos como este aqui relatado. A Gol e os responsáveis pelo ato racista precisam ser exemplarmente punidos. O crime que cometeram não pode ser tolerado, sob pena de referendar os discursos de ódio, ainda bastante presentes na sociedade contemporânea.

Exigimos desde logo que as autoridades competentes investiguem o caso, apliquem as penas devidas e cumpram com o papel que lhes é destinado: proteger os direitos mais básicos dos cidadãos. 

As entidades sindicais continuarão no combate diário ao racismo. Afinal, a classe trabalhadora tem cor e representa bem mais que a metade da população do país. Erilza Galvão, Coordenadora Adjunta do Coletivo de Combate ao racismo da ISP-Brasil, Secretária de Gênero, Raça, Juventude e Orientação Sexual da CONDSEF/FENADSEF e Coordenadora de Formação Sindical do SINTSEF-BA, observa que precisamos encarar de frente nossa ferida histórica, assumindo esse processo e nos responsabilizando em reparar socialmente todos os danos causados à população negra em nosso país. “Não haverá democracia enquanto houver racismo”, diz ela. E isso só será possível conquistar sem silenciar a voz de homens e mulheres negras, abrindo espaços em cargos de política, na mídia, nas universidades — através de políticas sociais de inclusão — e principalmente em nossas relações afetivas e sociais. São apenas algumas das coisas que podemos fazer para sanar essa dívida e promover a equidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *