08/03/2021-Tradicionalmente, na data, trabalhadoras de todo o país saem às ruas para marcar a luta por seus direitos, contra a violência de gênero e combatendo as práticas excludentes do machismo e da opressão social. A luta prossegue (mesmo porque a pandemia só agravou muitos desses problemas, como veremos a seguir), mas de outras formas, pautando debates nas redes e pressionando contra as práticas de um governo genocida, como é o governo Bolsonaro, que minimiza o impacto de quase 2.000 mortes diárias por uma pandemia que está em claro descontrole. O mesmo governo ainda avança contra direitos sociais garantidos pela Constituição, como saúde e educação públicas (já bastante precarizados) e quer destruir os serviços públicos e roubar direitos de seus trabalhadores e trabalhadoras.
Por isso, neste 8 de março, o SINTSEF-BA convida as companheiras e companheiros de sua base à reflexão. É preciso resistir a esse cenário fascista e desagregador que Bolsonaro tenta implantar no País com retiradas de direitos sociais, liberando porte de armas, mesmo com altos índices de violência contra a mulher e incitando a desigualdade. Não se engane: quem tenta mexer nos direitos das mulheres defende o preconceito e a discriminação de gênero.
Para o sindicato, no contexto político que estamos vivendo, o Dia Internacional da Mulher é uma data fundamental de luta para superarmos algumas velhas barreiras. Uma delas começou a ser transposta na última semana: o ministro do STF Dias Toffoli reconheceu em decisão liminar ser inconstitucional que advogados usem o argumento da legítima defesa da honra em casos de feminicício.
A “defesa da honra” é uma aberração que não existe em nosso Código Penal e só perdurou até os dias de hoje graças a toda essa herança patriarcal e machista que constituiu a sociedade brasileira – a mesma que permitiu, com olhar condescendente, que feminicídios se tornassem epidêmicos porque o homem “não aceitava o fim do relacionamento”. São construções sociais, há muito combatidas pelas lutas feministas, que atravessam gerações e acabam servindo de artifício para validar ações violentas e criminosas contra as mulheres.
A vitória no STF é importante e é de cada mulher que ousou se expor, erguer sua voz em defesa do direito à própria vida e à liberdade. As mulheres cada vez mais têm assumido o protagonismo dos seus destinos, tornando-se lideranças fortes, multiplicadoras dos discursos de igualdade e respeito e contra toda forma de retrocesso e abuso.
Mas, paradoxalmente, à medida que esses discursos ganham visibilidade e corpo, essas reivindicações saem do papel (a ponto de uma mulher chegar à presidência da República, por exemplo), um movimento contrário, uma espécie de refluxo do atraso, também ganha força e se estabelece. E é (também) por isso que hoje e sempre presenciamos furar o silenciamento conivente dos “formadores de opinião” para falar cada vez mais dos desafios que estão postos para a própria existência das mulheres enquanto tal. A mulher não pode mais ser relegada ao papel de objeto sexual, dona de casa e mãe de família, se assim não o desejar.
Segundo a pesquisa da Sempreviva Organização Feminista, metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de alguém durante a pandemia da Covid-19. Além da casa, do marido e dos filhos, houve esse acúmulo de cuidados sociais. Mesmo mulheres com emprego fixo e que, com a pandemia, foram obrigadas a trabalhar à distância, não estão livres dessa sobrecarga.
Professoras do ensino público de estados como o Ceará, por exemplo, relataram a exaustão com as múltiplas jornadas a que vêm sendo submetidas. Lucia (nome fictício), está cuidando da mãe com Parkinson e relata que cada vez mais tem utilizado as madrugadas para atualizar as planilhas e atividades de aulas remotas. “Faço à noite porque a casa para e tenho mais tranquilidade e porque durante o dia não dou conta mesmo”, diz. Ela conta que, graças a isso, anda tendo crises de ansiedade e a insônia piorou.
Além do adoecimento por exaustão, outro fator de opressão feminina é um fenômeno cada vez mais presente nos indicadores policiais e que também cresceu durante a pandemia: a violência doméstica, que tende a se desdobrar no feminicídio. Muito tem se estudado, abordado e tratado do assunto ultimamente. Mas a perversidade do senso comum – atrelada ao machismo – insiste em culpar a vítima por não abandonar o agressor. Sem sequer perceber que muitas vezes a mulher é dependente economicamente do agressor e, para conseguir se libertar do ciclo de violência, ela precisará ter meios de garantir uma estabilidade financeira mínima, a própria segurança alimentar e a de seus filhos, coisa que nem sempre é fácil. Pesquisadores da área de violência doméstica afirmam que muitas mulheres acham que seu filho passará fome ou ficará desprovido e por isso desistem de buscar ajuda.
O SINTSEF-BA, a CONDSEF-FENADSEF e a CUT estarão sempre juntos não apenas no 08 de março, mas em todas as jornadas que defendam mais igualdade de oportunidade para as mulheres, sobretudo nos espaços de poder, onde a participação feminina mal começou a mostrar sua força. É preciso quebrar esse ciclo de exclusão e opressão que se retroalimenta. Em 2021, estaremos afastadas por uma tela, mas em breve esperamos poder estar juntas novamente nas ruas e mostrar toda a coragem e determinação da luta feminina.