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13 de maio: Escravidão ainda está longe do fim no Brasil de 2020

“Todo mundo é negro de verdade
É tão escuro que percebo à menor claridade
E se tiver barreiras?
Pulo, não me iludo não
Com essa de classe do mundo
Sou um filho do mundo
Um ser vivo de luz
Ilê de luz
Até meu bem provar que não, que não,
Negro sempre é vilão
Até meu bem provar que não, que não
É racismo meu? Não.”

(“Ilê de Luz”, de Carlos “Suka” Lima)

13/05/2021- Nesta quinta-feira, 13 de maio, registramos 133 anos da abolição da escravatura no Brasil. Uma falsa abolição, sabemos hoje, após as revisões históricas que mostraram que esse processo era bem mais tortuoso e inacabado do que o apresentado pelos livros escolares. O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão e o fez de forma gradual e lenta, sem assegurar aos ex-escravos as condições necessárias para sua integração social, econômica e política. O resultado, mais de um século depois, é a situação de discriminação racial e de desigualdade social a que é relegada a população negra, apesar dos/as negros/as serem a maioria da população brasileira.

Em nosso conhecido cenário de exclusão social e violência, a crise sanitária provocada pelo COVID-19 surge como agravante, levando à morte mais de 420 mil brasileiros, em sua maioria negros das periferias das grandes cidades. Pesquisas apontam que a chance de um negro morrer por coronavírus é 38% maior do que a de um branco.

Entidades como o SINTSEF-BA, a CUT e a CONDSEF-FENADSEF sempre denunciaram esta realidade como injusta e inadmissível. Não podemos deixar de aproveitar este 13 de maio para denunciar, mais uma vez, as consequências perversas do racismo.

Quando apontamos a maldade e incompetência da administração pública federal, localizados particularmente no presidente Jair Bolsonaro e sua equipe (mas não só eles), é sobre isso que estamos falando. Da continuidade dessas políticas odiosas de segregação ao longo de gerações. Falamos dessa nossa elite sórdida, que se finge de caridosa e altruísta, mas não hesita em defender políticas de morte, como as Reformas do Estado – a da previdência e a trabalhista, já aprovadas, e a administrativa, ora tramitando no Congresso Nacional. Reformas que invariavelmente, como alertamos, levam à ampliação da fome e da miséria, para satisfazer os interesses de banqueiros, empresários e investidores do mercado financeiro que nunca parecem estar satisfeitos em acumular seus lucros milionários, ano após ano.

Os floreios dos discursos abolicionistas seguem incompatíveis com a perpetuação do trabalho escravo no Brasil e suas extensões, como os subempregos ou as terceirizações. Segmentos que atestam isso de forma inequívoca, pois exploram a mão-de-obra barata, desvalorizam e desumanizam seus empregados, Sem esquecer dos gestores públicos, que atuam mais na linha de vigilância e punição do que de orientação/coordenação; e, muitas vezes, transportam esse viés para a avaliação funcional dos servidores, como lembra Erilza Galvão, Coordenadora de Formação do SINTSEF-BA e Secretária de Gênero, Raça, Etnia e Contra Opressões da CONDSEF/FENADSEF. O século XIX ainda é aqui e agora.

“A vigilância e punição aos pretos (de tão pobres e vulneráveis), aos pobres (de tão pretos…), continuam, em novos formatos, novas profissões, novas nomenclaturas, sob a tutela do Estado”, lembra Erilza. O racismo que mata, seja pela fome ou pela violência, ainda é uma presença inequívoca em nossa sociedade. Seguranças ou policiais, os novos capitães do mato, continuam a defender a propriedade privada, prontos para chicotear e assassinar os que furtam ou atravessam o seu caminho, mesmo que para comer.

Apesar de tanto horror, a resistência também é contínua. Nosso grito é nossa força. Por isso o SINTSEF-BA não abre mão da defesa de políticas públicas capazes de espantar esse fantasma para o passado. Lutamos com a CUT, a CONDSEF/FENADSEF e a ISP, por emprego e renda, garantia de moradia digna e reparação a estas milhares de pessoas que foram arrancadas da sua terra, aprisionadas, que tiveram suas famílias assassinadas e foram trazidos à força como escravos para o Brasil. Ao invés de celebrar a abolição, o Estado brasileiro precisa reconhecer sua responsabilidade pelo prejuízo causado a todas estas pessoas e indenizá-las. É hora de recontar essa história, dos heróis e heroínas que lutaram (e dos que ainda lutam) pela liberdade e pelo fim da escravidão, Enquanto houver racismo, não haverá democracia!